I. Introdução
Tradicionalmente a Idade Média é compreendida entre o século V até o século XV embora não seja sensato estabelecer com exatidão o momento histórico em que este período se inicia e se finda. Pois, “sendo a história um processo, deve-se renunciar à busca de um fato que teria inaugurado ou encerrado um determinado período” (Júnior, 1992).
Denominada pelos estudiosos do século XVI como período de estagnação do desenvolvimento, ficou marcado como Idade das Trevas. Apesar do pré-conceito gerado em torno deste período, muitas transformações sócio-culturais se desenvolveram ao longo dos seus séculos.
Tal período se destaca por algumas características: A convivência e a interpenetração de Roma, dos germanos e da Igreja – em sua primeira fase, denominada 1° Idade Média; uma nova unidade política com Carlos Magno e a lucratividade exacerbada da Igreja – em sua 2° fase, denominada Alta Idade Média; e, finalmente, a época do Feudalismo – a 3° fase desse período denominada Idade Média Central (Júnior, 1992).
Este trabalho visa explicitar as transformações ocorridas na passagem do mundo feudal para o moderno.
II. Uma breve perspectiva acerca das transformações ocorridas na passagem do mundo Feudal para o mundo Moderno
Após a crise do século III o império Romano vivenciou um período conturbado que contribuiu para a divisão do império em duas partes: Ocidente e oriente. Conhecidos, também, como Império Bizantino e Império Carolíngio.
O oriente, conhecido como Império Bizantino, conseguiu resistir às invasões bárbaras e perdurou ainda por onze séculos. Funcionava como um Estado organizado em que os soberanos respeitavam suas leis e buscavam atender o desejo de todos além de observar e realizar os mandamentos da igreja.
O ocidente por sua vez, não resistindo os sucessivos ataques se fragmentou em vários reinos ocupados pelos bárbaros no século V. dentre as invasões destaca-se a invasão dos Francos que conseguiram estruturar um poderoso reino governado pelas dinastias Merovíngia e Carolíngia. Com a dissolução da dinastia merovíngia, a dinastia Carolíngia se consolidou e no reinado de Carlos Magno foi denominado Império Carolíngio. Apesar dos esforços do seu imperador para manter o ocidente unificado, o império Carolíngio não resistiu ao tempo. De acordo com Lopes (1965) o império Carolíngio era um gigante frágil que um século depois da morte de Magno já estava dividido e decadente.
A desestruturação do Império Carolíngio, unido à uma onda de ataques – Vikins, Muçulmanos, Megiares – contribuíram para que no século X a Europa vivesse uma crise generalizada, responsável por um clima de insegurança que tomava contado Ocidente europeu, que por sua vez em busca de proteção, migrava para o campo. Os mais fracos procuravam ajuda de nobres poderosos, os camponeses procuravam auxilio de senhores de terra, onde acabavam sendo submetidos à servidão.
Esse processo de ruralização da sociedade européia demonstrou uma considerável característica de transição do mundo Romano para o Mundo feudal que é uma montagem que representava a crise geral daquele momento.
Para o historiador medievalista Legoff feudalismo é um sistema de organização econômica, social e política, no qual uma camada de guerreiros especializados – os senhores – subordinados uns aos outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, domina uma massa campesina que trabalha na terra e lhe fornece com que viver.
Percebe-se na imagem acima a vida rural em destaque e, ao fundo, a cidade distante, fazendo um contraste com o trabalho braçal dos camponeses na terra. Sem distinção, homens e mulheres trabalhavam em todas as estações, do plantio à colheita; do nascer do sol ao pôr do sol.
A servidão era considerada uma visão superior da escravidão, pois o servo era relativamente livre. De acordo com BURNS
O servo morava, em geral, numa cabana miserável, construída de varas trançadas e recoberta de bano. Um buraco no telhado de palha era a única saída para a fumaça do fogão. O peso de terra batida, geralmente fria e encharcada pela chuva ou pela neve. Sua alimentação grosseira era constituída de pão preto ou misto, algumas verduras, queijo carne e peixe salgado, pois não tinham direito de desfrutar daquilo que produziam.
Mas, nem tudo era sofrimento ou miséria na vida do servo feudal. Ele tinha direito a posse usual da terra. Se a terra fosse vendida ele conservava o direito de cultivar seu lote. Quando o servo ficava muito velho ou fraco para trabalhar, era dever do senhor feudal cuidar dele até o fim dos seus dias. Embora trabalhasse duro nas épocas de plantio e colheita tinha muitos dias de folga. Em algumas partes da Europa esses dias chegavam a um sexto do ano.
Economicamente o sistema feudal estava centrado na produção agrária e a pouca produção artesanal estava concentrada nos senhorios. Isso não significa que as atividades comerciais ficaram estagnadas. O comércio mesmo variável se manteve, não permitindo assim que a economia agrária fosse uma exclusividade.
De modo geral as terras dos feudos se dividiam em três partes: a reserva senhorial, o masso servil e as terras comunais. No ano 1000 a sociedade feudal precisava se organizar, então elaborou um esquema de ordem mais conhecido como esquema trifuncional, pensado pela Igreja, que era grande detentora de terás e tentava manter o trabalho servil. O esquema pregava que cada um desempenhando seu papel na sociedade estava agradando a Deus. O sistema se constituía em: Bellatores, Oratores e Laboratores. Os Bellatores eram os nobres e o termo originalmente significa guerreiros. Os oratores, termo que significa rezadores, constituíam o clero; e os laboratores, etimologicamente trabalhadores, eram os servos.
Esse sistema criou um clima de imobilidade social onde ninguém subia ou descia de posição social. De acordo com Legoff a sacralização da sociedade e a divisão em ordens extremamente dependentes umas das outras tinha o objetivo de manter o servo à terra, conter as revoltas e manter a ordem universal.
O bispo Aldebaron de Laon, no século XI, dizia: Nobreza, Clero e servos formam um só conjunto e não se separam. A obra de um permite o trabalho dos outros dois e cada qual, por sua vez, presta apoio aos outros (Cotrim, 1990).
Do ponto de vista econômico a igreja além de ser grande detentora de terras - calcula-se que a igreja tenha chegado a possuir um terço das terras cultiváveis no ocidente – ela também possuía uma influência sobre o imaginário do homem medieval onde seu referencial para todas as coisas era sagrado o que por sua vez fazia com que os indivíduos tivessem medos escatológicos, questionamentos sobre a pós morte dentre outros.
A concretude da religiosidade medieval – daí as peregrinações, cruzadas, culto às relíquias – derivava do seu forte dualismo, da crença na onipresença dos anjos e demônios a quem se procurava ou atrair ou exorcizar (Junior, 1992). Assim a forte presença da religiosidade ditava o modo de volver do homem medieval, fazendo com que todos os acontecimentos fossem interpretados por uma ótica sagrada.
Em meio a tantos acontecimentos se percebe um lento processo de transformação, uma nova classe poria em xeque o sistema social harmonioso da Igreja, a burguesia. Sua atuação aparece com o crescimento dos centros urbanos, nos séculos XI e XIII, consumando a destruição do sistema tripartido e a dissolução do sistema feudal modificando as estruturas do mundo medieval. Para tanto, uma tranqüilidade social vivida pela Europa no século XI deu início a este lento e decisivo processo de transformação, com o fim de sucessivas inovações, o início de cruzadas que reabriram o mediterrâneo, novas atividades econômicas e o crescimento populacional, permitiu o retorno à vida urbana fazendo renascer as cidades. Tais fatos permitiram que a sociedade de ordem desse lugar a uma sociedade onde os indivíduos fossem classificados de acordo com a sua profissão. A centralização do poder agora nãos mãos da monarquia conduziu à emergência da formação do Estado absolutista. Percebe-se na figura 2 características simbólicas desse período: pessoas ajoelhadas diante da monarquia e posteriormente o rei os abençoando – uma figura divina com poder real.
A formação do Estado se deu em oposição ao regionalismo político dos feudos e o universalismo religioso, provocando transformações religiosas. Com a formação de núcleos urbanos a partir do século XII ocasionou a liderança na revolução comercial e, com isso, não apenas um avanço estilístico na arte e na cultura, mas na política e utilização da eloqüência pública para a prática da liberdade e a análise da história à luz das próprias experiências, como se a própria história fosse uma ferramenta para uma arte racional de governar (Fontana, 1998).
III. Análise das imagens referentes à Idade Média e Moderna
O homem na Idade Moderna começou a se individualizar. Um novo modo de pensar tende a levar o homem a parar de olhar tanto para as coisas divinas e mais para si mesmo. Não que Deus tivesse sido esquecido, mas deixou de ser o centro. Com essa nova forma de pensar o homem formula novos princípios em substituição aos valores dominantes da Idade Média. Dentre eles se destacam: O humanismo, racionalismo, individualismo.
Um movimento intelectual e cultural muito marcante nessa época foi o renascimento, nascido na Itália. Foi a partir dessa época que o período medieval começou a ser chamado pejorativamente de “Idade das trevas”. O Renascimento modificou as técnicas da arte aperfeiçoando-as com a tinta à óleo, misturando tintas, criando cores vivas e atraentes.
Apesar de todas as mudanças aparentes se deve entender que essa passagem de um período para o outro se deu de forma gradativa, onde valores renascentistas se via presentes na Idade Média, dando a idéia de continuidade. Para Hauser (1982) a concepção naturalista e científica do mundo é certamente uma criação da renascença, porém o interesse pelo individual, a busca pela lei natural e o sentido de fidelidade à natureza, na arte e na literatura surgem antes da renascença. Portanto, é evidente a continuidade entre a época medieval e o renascimento.
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